O assunto já é recorrente nos programas que apresento e inúmeras vezes já debatemos com ex-atletas, dirigentes e ex-dirigentes, mas a pergunta sempre fica no ar: afinal de contas, por que Santiago não tem um time de futebol profissional? O que falta pra isso acontecer?
Em resumo, o fator principal é a falta de interesse de dirigentes, especialmente do Cruzeiro, clube que sempre nos representou e muito bem, diga-se de passagem. E os dirigentes têm suas razões, logicamente. Primeiro que fazer futebol é caro, o mercado está inflacionado e um plantel competitivo requer muitos recursos, não somente para custear salários, mas toda a estrutura de viagens, alimentação e hospedagem, por exemplo. Segundo que sempre fica o medo de que a ideia não seja bem recebida e um fracasso possa deixar más lembranças, como contas a pagar, especialmente dívidas trabalhistas, bastante comuns nesse esporte.
Não vou me estender demais, até porque a intenção é provocar a discussão e ampliá-la em outras resenhas, mas não há como esquecer uma tentativa recente do então presidente Renato Genro Vielmo, que montou uma equipe para enfrentar na mesma pré-temporada Inter-SM e São Gabriel, que dias depois disputariam a Divisão de Acesso. E fomos bem na oportunidade, mesmo sem tempo para treinamentos e utilizando jogadores sem a mesma preparação dos profissionais adversários. Lembro como se fosse hoje que no dia do jogo de volta contra o Interzinho a empolgação dos torcedores era gigante e a impressão que tínhamos nos bastidores é de que o estádio lotaria. Infelizmente veio uma chuvarada que durou horas e até a realização da partida foi colocada em dúvida. Assim, infelizmente não foi possível saber se as expectativas realmente se confirmariam. Infelizmente o Genro deixou o cargo em seguida e não foram feitas novas tentativas para termos a certeza se a proposta vingaria ou não. Talvez tenha faltado também um pouco mais de incentivo de outros dirigentes e pessoas que fazem a rotina do clube.
Em conversas com dirigentes, inclusive o Paulo Henrique Marques, que hoje comanda o São Luiz, de Ijuí, na Série A, sempre foi unanimidade que é possível, que dá para se viabilizar, mas o pontapé inicial precisa ser dado. Como disse recentemente o Paulo Ricardo Santos, santiaguense que cuida do futebol do Inter-SM há alguns anos, um retorno a partir da Terceirona, utilizando a Base e com prazo para que os resultados apareçam pode sim ser o caminho para termos de volta aquele futebolzinho tradicional das tardes de domingo ou das noites de quarta-feira. A vizinha São Borja é um exemplo recente disso. E olha que o estádio deles sequer tem iluminação para receber jogos noturnos.
A reunião de atletas para participar do Estadual de Futebol Sete no próximo fim de semana reacende essa chama, afinal de contas ali temos bons nomes que facilmente vestiriam a camisa de Santiago. E se quisermos ir mais longe basta fazer uma lista de atletas profissionais que saíram daqui e atuaram em grandes clubes sem ter a oportunidade de pelo menos disputar um Gauchão pela cidade onde nasceram. Polga e Charles (os que foram mais longe na atualidade), Limão, Alisson “Cebola”, Marlon e a gurizada surgida da Base que ainda está na luta por um lugar ao sol. Sem contar outros que foram profissionais e hoje estão aqui, em casa, e poderiam somar muito com suas experiências, como o Régis Zolin e o Vandré, só pra citar dois exemplos.
O assunto merece muito mais espaço e aqui fica a proposta para que seja discutido de mente aberta. Inclusive porque até onde sei há um novo convite para enfrentarmos o Coloradinho em março, durante a preparação para mais uma Divisão de Acesso. Quem sabe o futuro presidente do Cruzeiro não permite pelo menos que projetos nesse sentido sejam apresentados para que possamos pensar num futuro nem tão distante? Claro que há outras prioridades, como promover melhorias no estádio, que agora se chama José Francisco Gosrki e não mais Alceu Carvalho, mas o que impede das coisas caminharem juntas para que possamos ver de novo aquelas arquibancadas lotadas? Tenho certeza que a integração com a comunidade seria muito maior e até a Copa Santiago, menina dos olhos da direção do Raposão, sairia valorizada.